REVOLUÇÃO DE 30 – NOSSA REVOLUÇÃO INACABADA
Daniel Matos – Gaúcho, gremista, migrante regional interesado en la fauna política latinoamericana y tercermundista. Cinéfilo, lector voraz, principiante buceador de leyes. “Trabalhista” y peronista por conciencia y procedencia popular.
A Revolução de 1930 foi um marco que redefiniu os rumos do Brasil e segue, até hoje, influenciando a forma como pensamos política, Estado e desenvolvimento. Mais do que uma simples ruptura de governo, aquele movimento abriu caminho para a construção de um país moderno, urbano e industrial, rompendo com a hegemonia da chamada “República Velha”, marcada pelo domínio das oligarquias agrárias e pela política do “café com leite”.
De Getúlio Vargas e do núcleo trabalhista que emergiu a partir de 1930 nasceram instituições e inovações que permanecem como pilares do Brasil contemporâneo:
Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (1930), marco da institucionalização do mundo do trabalho como tema central do Estado;
Legislação trabalhista pioneira, com regulamentação da jornada de trabalho, férias remuneradas, carteira de trabalho, direito à sindicalização e salário mínimo, culminando na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943;
Justiça do Trabalho como espaço institucional para mediação entre patrões e empregados;
Expansão da educação pública como instrumento de cidadania e desenvolvimento nacional;
Fortalecimento do Estado como agente econômico, por meio de empresas estatais e planejamento centralizado, lançando as bases da industrialização brasileira;
Criação de novas formas de participação política, com o voto secreto (1932), o voto feminino e a Justiça Eleitoral, que modernizaram o sistema democrático;
Política de integração nacional, que buscava unir o Brasil rural, urbano e industrial sob um projeto de Estado forte e desenvolvimentista.
Essas inovações transformaram o Brasil em um dos primeiros países da América Latina a adotar um modelo de Estado social e desenvolvimentista, antecipando políticas que influenciariam mais tarde outras nações latino-americanas. Experiências como o peronismo na Argentina, o cardenismo no México e, décadas depois, os governos nacional-populares da Bolívia, do Chile e de outros países, encontraram inspiração no paradigma trabalhista brasileiro, que unia justiça social, industrialização e soberania nacional.
Nos dias de hoje, quando o país enfrenta desafios de desigualdade, crise econômica e descrédito político, a Revolução de 30 nos lembra da necessidade de coragem para romper ciclos de exclusão e repensar os caminhos do Brasil. Seu legado está na capacidade de transformar crises em oportunidades, de mobilizar forças sociais em busca de mudanças estruturais e de entender que democracia e justiça social não se constroem apenas pelo jogo político tradicional, mas pela pressão e participação popular.
Assim, a Revolução de 1930 permanece como um ponto de referência histórica: mostra que o Brasil pode reinventar-se diante de impasses, e que o futuro se constrói quando se ousa enfrentar velhas estruturas que já não respondem às demandas do povo.
