O trabalhismo surgiu como resposta histórica à dominação das elites agrárias e, mais tarde, à submissão ao sistema financeiro. Desde Vargas, o projeto trabalhista ergueu-se como uma ruptura com o modelo colonial que concentrava renda e poder, impondo ao povo o papel de mero espectador do destino nacional. Foi, desde o início, uma doutrina de emancipação — política, econômica e moral — que enxergava no trabalho a essência da cidadania e na soberania nacional o fundamento da justiça social.
Nas décadas de 1930 e 1950, o trabalhismo não se limitou a governar: educou o Brasil politicamente. Criou direitos, consolidou instituições e traçou um caminho de desenvolvimento autônomo, industrial e socialmente inclusivo. Ensinou que o Estado não é inimigo da sociedade, mas o instrumento pelo qual o povo organiza seu próprio destino. Enquanto as elites defendiam a dependência externa como inevitável, o trabalhismo afirmava que o Brasil podia — e devia — ser dono de suas riquezas e de seu futuro.
Quando as forças conservadoras reagiram, derrubando Jango em 1964, não foi apenas um governo que tombou: foi uma tentativa de silenciar uma consciência nacional em formação. O golpe militar representou o retorno das oligarquias e dos interesses financeiros internacionais ao comando do país, restaurando o velho pacto de dominação que o trabalhismo havia desafiado.
Mas o espírito trabalhista sobreviveu. Nas lutas da resistência democrática, nos exílios e nas mobilizações populares, essa chama foi mantida por lideranças que compreenderam o trabalhismo não como um partido, mas como uma escola de formação cívica e nacional. Foi essa tradição que Brizola retomou nas décadas de 1980 e 1990 — reafirmando o papel do Estado, denunciando o poder destrutivo do rentismo e convocando o povo à tarefa de reconstruir o Brasil com base em sua própria força de trabalho.
Ao mesmo tempo, o trabalhismo foi — e continua sendo — uma escola de lideranças. Nenhum outro movimento político brasileiro reuniu, ao longo da história, tamanha qualidade de quadros, pensadores e gestores públicos. Dos economistas que formularam políticas de industrialização e planejamento, aos educadores, juristas, cientistas e sindicalistas que ajudaram a desenhar o país moderno, o trabalhismo sempre se cercou dos melhores cérebros da sociedade. Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola foram, cada um a seu tempo, líderes que acreditaram no poder transformador da inteligência nacional a serviço do povo — e não do capital.
Essa tradição forma o núcleo duro do que o trabalhismo representa: uma síntese de pensamento e ação, teoria e prática, política e patriotismo. Uma escola de consciência nacional e de liderança pública, forjada na convicção de que o Brasil não será uma nação justa enquanto for governado pela lógica do lucro e da dependência.
Por isso, o trabalhismo é mais do que um partido — é uma escola de consciência nacional. Uma escola que ensina, geração após geração, que a verdadeira independência do Brasil depende de romper com o poder das elites e com a submissão ao sistema financeiro, reconstruindo o país a partir da dignidade do trabalho e da soberania popular.