É possível defender um Projeto Nacional sem apresentar uma candidatura à Presidência da República?

Daniel Matos – Gaúcho, gremista, migrante regional interesado en la fauna política latinoamericana y tercermundista. Cinéfilo, lector voraz, principiante buceador de leyes. “Trabalhista” y peronista por conciencia y procedencia popular.

A pergunta é incômoda, mas necessária. Afinal, qual o sentido de um partido político que afirma ter um programa nacional — forjado em décadas de luta popular — se exime de disputá-lo com o povo nas urnas? Como apresentar um Projeto de país sem uma figura pública que encarne suas ideias e as leve ao embate nacional?

A presidência não é apenas mais um cargo em disputa. É o único posto institucional capaz de tornar viável um programa nacional de transformações profundas. Sem presença nesse espaço, o projeto permanece no plano da retórica. Palavras bonitas em documentos internos ou discursos inflamados que, sem canal concreto de realização, perdem sua potência.

Defender um Projeto Nacional exige mais do que memória: exige ação. E essa ação começa na disputa política com o conjunto da sociedade. Projetos que mobilizam a vida dos militantes, dos filiados, dos quadros partidários, não se sustentam apenas na sobrevivência eleitoral regional. Se o único motor da militância for o jogo institucional por verbas, cadeiras e cálculos eleitorais de curto prazo, é sinal de que algo mais grave foi perdido no caminho.

Historicamente, o que moveu as grandes transformações no Brasil foram projetos que ousaram mais que o possível. Foi assim com Tiradentes, com José Bonifácio, com Júlio de Castilhos, com a Revolução de 1930, com a Era Vargas, com as Reformas de Base de João Goulart e com a contundente trajetória de Leonel Brizola. O que havia em comum? Um projeto de país e uma liderança que o expressava. Sem isso, o programa vira apenas uma lembrança.

Então cabe perguntar:
Quando foi que o Projeto Nacional Trabalhista deixou de convencer?
Quando foi que a Carta Testamento virou peça de museu e não mais um chamado político?

Se não há outro projeto que o tenha superado — e não há — por que razão não há uma candidatura à presidência disposta a encampá-lo? Será que falta liderança disposta? Ou falta vontade política da direção partidária?

É papel de qualquer partido que se proponha histórico e transformador formar quadros e identificar lideranças com densidade política, capacidade de diálogo com o povo e compromisso com o programa. Isso não é favor, é tarefa orgânica. Faz parte do alicerce da política popular: disputar corações e mentes com ideias, com propostas e com rostos.

Entre os argumentos ouvidos para justificar a ausência de uma candidatura nacional, alguns se repetem:

1. “Estamos em risco de não alcançar a cláusula de barreira.”

2. “O partido está desfinanciado, não é hora de aventuras.”

3. “Falta coesão interna, há conflitos regionais.”

Todos compreensíveis, mas todos também frágeis diante da gravidade do problema.

Campanhas majoritárias têm o papel de apresentar visões de país. São nelas que a sociedade se conecta com programas, conhece propostas, reconhece lideranças. São campanhas que galvanizam militantes e renovam esperanças. Se um partido abre mão disso, está abrindo mão de disputar o próprio futuro.

O momento exige coragem. Militância não é conformismo. Militância é transformação — inclusive dentro do próprio partido. O debate interno deve ser vivo, plural e propositivo. Mas não pode ser paralisado pelo medo, pelo cálculo frio ou pela lógica do “não dá”.

Se acreditamos num Projeto Nacional, abrir mão de disputar a presidência não pode ser opção.
Porque um projeto sem rosto é um projeto sem povo.
E um partido sem coragem de apresentar seu nome ao país é um partido que se apequena diante da história que o criou.

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