Discurso histórico de Requião em sua filiação ao PDT

Redação – 19 de julho de 2025

O PDT é o partido da democracia, mas é o partido da soberania e de uma palavra que já está esquecida na política do Brasil: é o partido do desenvolvimento econômico. E nós estamos navegando num sentido contrário à possibilidade do país soberano. Estamos, como disse o Lupi agora, nos conchavos: como vamos ganhar a eleição? Como vamos fazer a coligação, a frente da esperança?

E eu, que fui fundador do MDB do Paraná, sou o filiado número um do PMDB do Paraná. Saí do PMDB, que se transformou num balcão de negócios nas últimas eleições. Certamente, como todos vocês, apoiei o Lula, que era a esperança e a possibilidade que nós teríamos de fazer alguma coisa positiva. E quero dizer a vocês que, se as circunstâncias fossem as mesmas hoje, a minha posição seria a mesma. Não dava para tolerar a estupidez bolsonarista patrocinada pelo capital financeiro.

Eu fiz um texto para perpetuar de uma forma bem clara essa minha entrada no PDT:

A opção do meu filho Maurício e a minha pelo PDT, nesses dias angustiantes da história brasileira. Guiam-se por duas marcas que Leonel Brizola imprimiu impagavelmente no programa do partido: a defesa da soberania nacional e a defesa dos trabalhadores. Dois signos que também guiaram toda a minha vida política desde a minha militância estudantil.

Sou da geração que saiu às ruas na campanha do “Petróleo é Nosso”, que se opôs ardentemente ao avanço imperial sobre as nossas riquezas, que perfilou com trabalhadores por direitos, justiça e dignidade, que brigou a vida toda pela construção de uma nação soberana, desenvolvida, justa e feliz. Uma das fotografias antigas que volta e meia replico nas minhas páginas na internet é a de um encontro em Curitiba de meu pai com o presidente Getúlio Vargas, petebista nacionalista da velha cepa. Meu pai era, naquela ocasião, candidato de Getúlio à prefeitura da capital.

Quer dizer, as filiações de meu filho Maurício e a minha ao PDT representam um reencontro familiar e político com o trabalhismo de Getúlio e de Leonel Brizola. E que da vida, que este reencontro ocorresse em um dos momentos mais críticos da história do nosso país. Realmente, de nossa soberania, o que resta? O petróleo não é mais nosso. A Petrobras vendeu 64% das suas ações, e quase tudo isso para capital internacional.

O desenvolvimento nacional, arquitetado pelo Getúlio com as estatais estratégicas, foi simplesmente demolido. A financeirização da economia anula a nossa condição de nação, transformando-nos em meros elos de interesses da banca nacional e global. Já os direitos dos trabalhadores restam brutalmente estraçalhados. A CLT que Vargas inspirou está em frangalhos, desfigurada, com os assalariados desprotegidos e explorados, com toques e retoques de selvageria.

E, para dar contornos ainda mais sinistros a uma realidade por ela mesma funesta, eis que o velho e tenebroso Tio Sam, tantas vezes enfrentado a unhas por Getúlio, Jango, Brizola, manifesta-se nesse momento com toda a sua vileza, arrogância e estupidez. Se não tivéssemos cedido tanto, se não tivéssemos entregue tanto, se não tivéssemos nos curvado tanto, o império norte-americano e os calabares brasileiros não ousariam ataques tão insolentes e tão desrespeitosos como nesse momento. O atrevimento de Trump e de seus parceiros nacionais dá a medida de quanto a nossa soberania foi degradada.

Se você não se respeita, quem vai respeitá-la? As privatizações, terceirizações, concessões — não apenas as praticadas por Fernando Henrique Cardoso e Bolsonaro, mas também as que patrocinaram e continuam patrocinando governos supostamente à esquerda — debilitaram e apequenaram o Brasil e a nação. Vejam bem: não me referi a partido, mas a governo.

O desmantelamento das estruturas e das políticas estatais, do planejamento, dos planos e metas que induzissem, impulsionassem, sustentassem o desenvolvimento nacional, roubou-nos décadas de avanços e acrescentou algumas décadas no já bem fornido calendário do atraso.

O tripé, o famigerado tripé em cima do qual se sustenta a nossa política econômica — câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário — sacratíssimo para os governos neoliberais, e sacratíssimo também para os ditos de esquerda, engessa qualquer possibilidade de se romper as algemas do subdesenvolvimento, da sub industrialização, da desigualdade, da pobreza, da dependência, das perdas internacionais. Como diria Leonel Brizola, esse tripé, na verdade, essa pesadíssima âncora que nos mantém estacionados, firmemente atolados no atraso, interessa a quem? A quem, Leo?

A quem interessa uma estabilidade econômica que estabiliza e conserva a mais brutal das desigualdades de renda do planeta? A quem interessa o controle de preços que sempre, e cada vez mais, tira do pobre para sustentar o mais rico? A quem interessa manter equilibradas as contas públicas que destinam a metade do orçamento nacional ao pagamento dos juros da banca?

O tripé econômico imposto ao país pelo mercado é a sentença de morte às nossas pretensões, aos nossos sonhos de um Brasil soberano e desenvolvido. Não há dúvida que estamos num caminho absolutamente errado. O tripé é um golpe permanente, incessante contra o nosso país e o nosso povo. É uma conspiração infindável, dia após dia, contra o nosso futuro. Não há futuro que se construa com o país atrelado a tais pressupostos.

Aí se pergunta: que democracia é essa que, a toda hora, somos convocados a defender, que se assenta sobre bases econômicas tão excludentes? Que democracia pode se assentar sob bases econômicas tão excludentes, tão desumanas, tão cínicas, tão cruéis?

Em geral, quase sempre, a esquerda, os partidos ditos de esquerda, os chamados progressistas, enchem a boca, enchem os nossos ouvidos falando em democracia, em defesa da democracia, mobilizam-se nas redes, no parlamento e nas ruas contra a anistia aos golpistas. Grande mobilização. Com a condenação dos golpistas, esperam ansiosos ver Bolsonaro na Papuda. Mas permanecem, prefeito, indiferentes, coniventes e ignorantes em relação à aplicação dos mandamentos econômicos neoliberais da vida diária do país.

Meu Deus do céu, para onde migrou o tino dessa gente? Em que esquina se perdeu a esquerda, ou a meia ou microesquerda? Onde, quando, por que desaprendemos? Deixamos de considerar as óbvias relações de dependência entre a política e a economia? Ou todo mundo se converteu a essa corrente despolitizada, desideologizada, não dominante nas redes sociais e cada vez mais presente nos partidos políticos ditos à esquerda?

Companheiras, companheiros, Getúlio Vargas falava em trabalho missionário, catequético, quando insistia em nosso papel de educadores do povo, de esclarecedores da opinião pública. De fato, sem a menor sombra de dúvida, nada mudaremos. Não iremos a lugar algum. Continuaremos a marcar passos no mesmo atoleiro, se os brasileiros não tomarem consciência da sua realidade. Sem que os trabalhadores, os assalariados, a classe média, os estudantes entendam toda a trama que mantém o Brasil subdesenvolvido, dependente, desigual e injusto, não avançaremos.

Acredito que este seja o papel de um partido político. Este é o nosso papel: educadores do povo. Educar, organizar, mobilizar.

Venho ao PDT para colaborar nessa missão, para reforçar, nesse momento, a posição brilhante que o Lupi tem nos enfrentamentos de cada dia, que sofre dos ataques absolutamente inconsistentes. Darei aqui continuidade à minha pregação diária pela construção do Brasil nação. Tenho sempre, como norte, dois pressupostos indeclináveis: a defesa da soberania e a defesa dos trabalhadores.

Agradeço a acolhida generosa ao Maurício e a mim. Tenho certeza que viemos para lutar e honrar os legados de Getúlio, de Leonel Brizola, de Rubens Paiva, de tantos trabalhistas que se dedicaram e deram a vida em defesa de nossa soberania, pela construção de um Brasil próspero, forte e justo, que se dedicaram e consagraram as suas vidas em defesa do povo brasileiro e de seus trabalhadores.

Minha gente, vamos em frente. Apesar de tudo, com todas as dificuldades, só nos resta um caminho: o caminho da luta, da resistência, da teimosia e da imbatível crença na vitória. Uma vida assim vale a pena. Por isso, eu e o Maurício assinamos hoje aqui a ficha do PDT.

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