Discurso histórico de Requião Filho em sua filiação ao PDT

O convite que recebi do presidente, do ministro, do Goura para entrar no PDT assustou muita gente. Teve gente que pensou: “Meu Deus, eles vão entrar e tomar conta de tudo!”. Não. A gente vai entrar. Se tomar conta, será consequência. Porque tudo é uma construção. E toda construção começa pela fundação.

A fundação de um partido é a sua militância. Ninguém faz política de cima para baixo. Ninguém impõe política. O espaço na política tem que ser conquistado, mesmo que, teoricamente, não exista espaço vazio. E é nessa perspectiva que eu entro neste partido: para ajudar a construir.

Não tenho objetivo nenhum — e acredito que o Requião também não — de liderar. O que precisamos é caminhar juntos. O PDT no Paraná já tem uma base, uma história, uma formação partidária diferente da dos demais. Desde os tempos em que os gaúchos começaram a subir pelo sudoeste até a chegada à capital, o partido construiu uma pedra sólida sobre a qual podemos continuar. E essa fundação precisa ser fortalecida para termos um partido cada vez mais estruturado.

Mas por que construir um partido, presidente? Porque a democracia no Brasil — e no Paraná — hoje tem dono. Está polarizada, e isso não é por acaso. Essa polarização beneficia dois grupos que assim desejam que ela permaneça. Querem só dois candidatos à presidência, ao governo, à prefeitura. Querem uma política rasa, burra. E é isso que temos hoje: uma política superficial, sem discussões de médio e longo prazo.

A política do presidente Lula e a do governador Ratinho são, me permitam dizer, praticamente idênticas. É um jogo de polarização com maquiagens diferentes. O Lula é do PT, o Ratinho do PSD, apoiou Bolsonaro. Mas o Lula foi ao meu estado prometer que não teria pedágio — e no primeiro mês de governo, apoiou o mesmo projeto do pedágio do Bolsonaro.

O governador Ratinho vendeu a Copel, uma empresa modelo de energia no Brasil. E o governo federal apoiou. Os portos do Paraná estão para ser privatizados com o apoio do ministro Renan Filho. Então temos dois grupos que se dizem antagônicos, mas na essência são iguais. Discurso diferente, prática idêntica: privatizam, entregam, se dobram ao capital financeiro e não enfrentam os problemas.

Não há planejamento de médio e longo prazo nos governos estaduais nem no federal. Vivemos uma política feita para o Instagram. Buscam curtidas imediatas, aprovação instantânea. É como se a política hoje fosse feita por pré-adolescentes em busca de validação do seu pequeno círculo de amigos. Não há planejamento.

A política está como um casal jovem apaixonado: empolgado com a festa do casamento, com o champanhe, o buffet, o filé-mignon. Mas esquecem que, depois da lua de mel, vêm os boletos, a convivência, os desafios da vida em comum. A política no Brasil é assim: cada um por si, sem projeto de futuro.

Por isso, o PDT se torna uma escolha lógica, correta e, principalmente, duradoura. Porque o PDT cuida da fundação — e a fundação é a educação.

Temos lindos discursos sobre universidades: bigtechs, data centers… mas não entregam nada. Porque a educação de base no Brasil é quase inexistente. A primeira infância não é atendida com qualidade. A maioria dos municípios não tem estrutura — ou vontade — para oferecer uma educação fundamental digna.

Os estados não cuidam do ensino médio e fundamental. E, sem investir na base, de que adianta as universidades federais? O ensino público e gratuito não tem qualidade. Chegam às universidades públicas, na maioria, os alunos de escolas e cursinhos particulares — aqueles que tiveram chance e sorte na vida.

Faz-se propaganda linda nas redes sociais, mas o planejamento dura 24 horas. Não há projeto de país. Por isso, vejo no PDT a chance de fazer política com planejamento, investir na educação básica, preparar o Brasil e o Paraná para o futuro.

Permitam-me citar um exemplo do meu pai. A BR que liga o Paraná a Santa Catarina era conhecida como “estrada da morte”. Dois governadores, Roberto Requião e Wilson Kleinübing, assumiram a obra federal e duplicaram a rodovia com recursos próprios. Hoje, essa BR já não comporta o fluxo atual. E o governo federal não tem um projeto de ampliação. Santa Catarina já fez seu contorno viário. E o Paraná? Nada.

Não há um projeto logístico nacional. Ficamos presos na discussão estéril de esquerda versus direita, enquanto não há projeto de industrialização, de escoamento da produção, de desenvolvimento real.

Entramos no PDT com esperança de que este partido possa ser independente, livre da polarização rasa do “nós contra eles”. Precisamos pensar no futuro: 20, 30, 40, 50 anos à frente. Resgatar ideias, valores, bandeiras.

Hoje, os partidos defendem interesses pessoais ou nomes. Isso não é um problema só do Brasil — acontece nos EUA, na França, na Alemanha. Perdemos o sentido de propósito, de projeto, de causa.

Por isso, com apoio do Goura, da Ana Lúcia, de todo o PDT paranaense, coloco meu nome como pré-candidato ao governo. Para que, pelo menos, possamos discutir algo além das redes sociais. Apresentar uma proposta real.

Gostamos de falar em ensino integral. Mas os professores morrem de medo, não porque não queiram, mas porque as escolas não têm estrutura para isso. Em vez de oferecer um ensino ruim por 4 horas, vamos oferecer um ensino ruim por 8 horas? Seriam escolas em tempo integral como depósitos de crianças.

No Paraná, fazem propaganda das escolas cívico-militares. Pegaram as melhores escolas, com os melhores alunos, e agora dizem que o modelo é um sucesso. Já eram escolas boas. Isso não é planejamento, é marketing.

Temos um governo estadual com mais de 80% de aprovação. Mas quando se analisa, a nota mais comum é “regular”. O que acontece é que o povo pensa: “Não me atrapalhou, então tá bom”. Não há escândalo na imprensa — ainda que haja denúncias. E como denunciamos! Mas a imprensa não dá eco.

A desconstrução diária das instituições — política, justiça, saúde — gera descrença. O cidadão pensa: “De que adianta votar? Não muda nada. De que adianta me filiar? Não serei ouvido.”

A saúde pública é um exemplo para o mundo, mas o brasileiro acha que não funciona. E é isso: ele acha que nada mais funciona. E por isso abandona a política.

Vejo no PDT a oportunidade de apresentar um projeto real para o Paraná, que rompa com essa narrativa forçada de dois únicos candidatos. Eles querem escolher por nós quem devemos votar. E farão o mesmo em nível federal.

A democracia é mais que nomes. Não se trata do Requião-candidato, mas de um PDT com projeto de estado, projeto de país, programa real. Isso é democracia.

A proposta precisa ser apresentada. E vejo no PDT nacional também essa chance: de apresentar um programa que fuja da polarização e trate do que realmente importa para a vida das pessoas.

Com base em suas raízes, em suas bandeiras, e cuidando da fundação: a educação. Porque sem ela, sem logística, sem planejamento, seremos passageiros. Nos elegeremos uma, duas, três vezes… para ser esquecidos pela história como aqueles que passaram e nada fizeram.

Agradeço a oportunidade de, junto ao PDT, construir um programa para o Paraná. E coloco a pouca experiência que tenho à disposição de todos vocês para ajudar a construir também um projeto nacional.

Obrigado.

Deixe um comentário