Gabriela Ortiz – Vice-Presidenta Estadual da Ação da Mulher Trabalhista do Rio Grande do Sul e Vice-Presidenta da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini no Rio Grande do Sul.
Sheila. Raíssa. Caroline. Juliana. Jane. Patrícia. Simone. Talia. Laís. Leobaldina. Dienifer.
O que todas essas mulheres têm em comum? Elas eram gaúchas. E foram brutalmente assassinadas.
Se pararmos para refletir – mesmo que por um instante – chegaremos a uma verdade dolorosa: nós, mulheres, ainda lutamos todos os dias para que “os homens das nossas vidas” não nos matem.
Somente em 2024, o Brasil registrou 1.492 feminicídios. Quem são as vítimas? Na maioria, mulheres negras, jovens, entre 18 e 44 anos. Assassinadas dentro de suas próprias casas, muitas vezes pelo companheiro ou ex-companheiro. Quase metade desses crimes foram cometidos com facas.
E mesmo as que buscaram proteção do Estado não tiveram garantia de sobrevivência: 121 mulheres foram mortas mesmo estando sob medida protetiva. Outras 100 mil medidas protetivas foram descumpridas.
No Rio Grande do Sul, a terra de Miguelina Vecchio, o cenário é ainda mais cruel: somos o estado com mais vítimas assassinadas mesmo sob medidas protetivas.
Nosso território tem 497 municípios, mas apenas 24 Delegacias da Mulher e 86 Salas das Margaridas. E foi preciso uma lei federal para garantir algo tão básico: que as delegacias funcionem 24 horas por dia, todos os dias.
Será que pedimos demais? Apenas poder denunciar nossos agressores e acreditar que estaremos vivas no dia seguinte?
A brutalidade não nos cala. Pelo contrário: cada mulher que parte deixa a missão de salvarmos a próxima.
Na vila. No bairro nobre. Da mão do pai. Do ex. Do atual. Não podemos silenciar. Não podemos recuar. Nosso enfrentamento é político. Nossa resistência é coletiva.
E foi com essa força que conquistamos a recriação da Secretaria Estadual da Mulher, aprovada por unanimidade na Assembleia Legislativa em 26 de agosto de 2025. Um passo histórico para garantir mais voz, mais políticas públicas e mais espaço de poder às mulheres gaúchas.
Às trabalhistas e feministas que carregam a saudade de Miguelina Vecchio, tenham certeza de que seu legado de luta pelas mulheres segue vivo. E é por isso que, de 12 a 14 de setembro de 2025, realizaremos em Porto Alegre a VI Conferência Estadual de Políticas para Mulheres, que levará o nome de Miguelina Vecchio.
Cada mulher presente será a prova de que não aceitaremos retrocessos. Que seguiremos unidas, firmes, fortes e inspiradas.
A memória e a luta seguem vivas dentro de cada uma de nós e agora é a hora de ocuparmos juntas este espaço de resistência e esperança. Por todas.
Miguelina, presente!