Gabriela Ortiz – Vice-presidenta da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini no Rio Grande do Sul
Circulou recentemente, entre setores do PDT, um texto intitulado “Unidade em defesa de quê, exatamente?”, questionando a nota conjunta assinada pelos presidentes de seis partidos progressistas — entre eles, o nosso companheiro e presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
A nota expressa apoio à postura do governo federal diante da ofensiva tarifária de Donald Trump, reafirmando a centralidade da defesa da soberania nacional em tempos de crescente instabilidade global.
Reconheço o direito à crítica interna e o valor do debate franco entre todos nós. No entanto, é preciso dizer com clareza: o texto em questão parte de um diagnóstico equivocado e entrega uma crítica que mais contribui para a desmobilização e fragmentação do campo democrático-popular do que para sua construção e avanço.
Primeiro, o texto ignora o inimigo real: o fascismo em reorganização
A pergunta essencial não é “unidade em defesa de quê?”, mas sim: vamos ou não construir unidade para derrotar o fascismo que ainda assombra o Brasil e o mundo?
Enquanto setores da extrema-direita se reorganizam com recursos, narrativa e apoio internacional, não é hora de alimentar divisões internas com ataques injustos, sectarismos ou purismos estratégicos.
Não se trata de silenciar divergências. Trata-se de responsabilidade histórica.
A extrema-direita já nos mostrou até onde pode ir quando encontra a esquerda dividida e descrente de si mesma. O bolsonarismo não desapareceu — apenas se camuflou, e segue buscando brechas para retornar.
O “surto coletivo” dos últimos dias no Congresso Nacional foi muito bem orquestrado. Não sejamos bobos.
E o Presidente Carlos Lupi nunca se omitiu nos momentos mais difíceis da política nacional. Como ministro da Previdência, foi o primeiro a denunciar publicamente os efeitos perversos das reformas. Assim como não se omitiu frente a fraude no INSS que, em momento algum, teve seu nome citado.
Assinar uma nota conjunta com outros partidos do campo progressista é maturidade política, é tática consequente, é comprometimento com a reconstrução nacional em meio a um cenário adverso.
Quem ataca esse gesto sem compreender o contexto e a correlação de forças presta, mesmo sem querer, um desserviço ao projeto de unidade popular — e ecoa, ainda que indiretamente, a estratégia da direita: nos dividir.
Segundo, o debate sobre soberania exige responsabilidade política.
É evidente que devemos combater todo tipo de entreguismo. É imperativo enfrentar o modelo fiscal neoliberal que asfixia o investimento público. Mas nenhuma crítica pode se dar de forma vazia, descolada da conjuntura concreta e da luta real do povo brasileiro.
Soberania não se defende com retórica isolada. Soberania se constrói com mobilização popular, projeto nacional de desenvolvimento e unidade programática.
Não se avança desferindo críticas seletivas a aliados enquanto se silencia diante das ameaças reais representadas pela extrema-direita que segue viva, articulada e à espreita.
Terceiro, unidade com crítica, sim — mas com direção estratégica
Unidade não é sinônimo de unanimidade, tampouco exige o fim das críticas. Mas precisa ser construída com propósito, direção e compromisso com as lutas do povo.
O PDT tem lado, o do povo, e tem projeto. E esse projeto passa, no momento histórico em que estamos, pela construção de uma frente ampla, crítica, mas coerente, que não perca de vista o essencial: a luta pela soberania, pela democracia e contra o fascismo.
Quem defende a soberania precisa compreender que não há soberania sem democracia.
E quem defende a democracia precisa saber que ela só sobreviverá se houver unidade da esquerda contra o fascismo.
E seguimos firmes em defesa do Brasil, do PDT e da democracia. Exatamente onde Brizola estaria ✊🏽🌹