É preciso voltar a Brizola e Cerqueira: centralizar a luta por uma política de segurança competente
João Marcos Grams – Historiador, Educador social, Mestrando em história política americana, Vice-presidente FLB-AP DF, Vice-presidente JSDF, Secretário de tecnologia nacional FLB-AP e Editor Chefe das Tribunas Trabalhistas
Quem não se escandaliza com as cenas da maior chacina da história do Rio de Janeiro já normalizou o que não pode ser normalizado. A política de segurança pública no Brasil é uma pauta política cíclica que sempre volta para reforçar o discurso reacionário e antipopular que dela se usa para legitimar a barbárie enquanto ethos político.
Uma questão central para entender esse processo é entender seus objetivos. Por que 121 pessoas (até o momento) perderam suas vidas? Por que a segunda maior cidade do país, principal cartão postal nacional, viveu dias de terror e paralisia frente a um cenário de guerra urbana?
O território do Complexo do Alemão e da Penha foi reconquistado pelo Estado das mãos do crime organizado? Torna-se óbvio que não pelo retorno ao status quo somente dias depois. A região agora vai poder ser alvo de uma política pública extensiva de desenvolvimento social? Como continua na mão de bandidos, também se torna óbvio que não.
O crime organizado sofreu um golpe profundo o suficiente para acabar com a facção? De forma nenhuma, as estruturas de poder logo vão se adequar, promovendo seus médios escalões e, como é costumeiro, promovendo uma radicalização de suas ações violentas para recuperar o capital e tempo perdidos.
Vemos então que a dita operação não conquista nenhum objetivo prático para mudar coisa alguma na vida do carioca, morador do alemão ou não. Uma operação policial que resultou em 121 vidas ceifadas e cujo único resultado vai ser como palanque eleitoral sanguinário dos responsáveis pelo fortalecimento das próprias facções. Torna-se, como quase todas as operações realizadas dentro do nosso atual pensamento de segurança pública: uma aventura pírrica de carnificina.
Atingir os quadros das facções em um complexo de favelas não resolve o principal problema de que esses grupos já estão institucionalizados nas estruturas políticas e econômicas brasileiras. Não adianta matar lideranças menores e diversos pequenos agentes se não se atacam essas estruturas.
Nesse momento, se torna tarefa fundamental do trabalhismo resgatar suas raízes brizolistas e empreender um processo de retomada da vanguarda por uma política pública que seja dura e ostensiva, mas que principalmente não seja, com o perdão da palavra, estúpida. E, nesse caso, não ser estúpido passa necessariamente pela construção de um esforço humanista, competente, tecnológico e integrado ao desenvolvimento social e econômico.
Me parece que o PDT, em especial o trabalhismo carioca, se encontra em uma condição particularmente central para essa retomada. Nossa maior referência, uma delegada de polícia reconhecida por sua competência e valor humanista, ocupa hoje com excelência a secretaria de assistência social da capital fluminense. Não vai existir quadra histórica mais adequada para resgatar o debate, assim como não vai existir quadra histórica mais trágica para se perder essa oportunidade e permitir a continuidade da matança.
Trabalhismo em diálogo: 20 anos sem Nazareth Cerqueira – Polícia e Direitos humanos
De forma simbólica, chega o momento oportuno para um enorme resgate da nossa tradição em relação à segurança pública. Trazer de volta ao imaginário e à disputa as visões de Darcy, Brizola e Nazareth Cerqueira – o primeiro comandante negro da PM -, sobre a construção de um novo paradigma.
De forma pragmática, esse é o momento para que o partido e seus quadros liderem o debate público, realizem agendas e plenárias nos locais populares, financiem e incentivem estudos e centros de investigação, criem movimentos de base e de reivindicação de uma política de segurança que seja baseada em resultados e não em espetáculo de necropolítica.
A saída não é simples, mas não é possível que não seja óbvio que a liderança em um projeto competente, duro, restaurador de dignidade e promotor da harmonia social se torna um caminho essencial para o trabalhismo deixar a insignificância e voltar a ocupar o destaque no estado que é seu segundo berço.
Também não é produtivo cair em uma postura de abandono da realidade ao entender que não é possível nenhuma mudança. Esperar a queda do sistema neoliberal capitalista para ai, sim, efetuar qualquer transição é agir de um abstracionismo paralisante.
O que não podemos é nos render ao cinismo de deixar se perpetuar a lógica que ceifa as vidas de 121 pessoas, sendo 4 membros das forças de segurança, e cria a verdadeiramente imbecil narrativa de que 117 suspeitos foram abatidos. O problema central dessa fábula é que a incompetência da atual visão de segurança não é compatível com se acreditar que não sejam tantos os inocentes que perderam a vida, e suas histórias por serem agrupados junto aos criminosos, nessa repetição farsesca da história.
Não existe cálculo político onde a vida de 121 pessoas seja equivalente a 60 apreensões de armas e 0 impacto na realidade do cidadão.
Leonel Brizola PDT – Horário Eleitoral 1989 – Direito de Resposta – Comunidade Negra
“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás.”
A mudança é possível, e nós já soubemos um dia como fazer, basta lembrar. Com a palavra o próprio caudilho:
Recursos:
https://app.uff.br/riuff/handle/1/15673
https://disparada.com.br/cel-carlos-cerqueira-brizola-pm/

